Saturday, July 26, 2014

Cidade da Penumbra, por Lolita Pille



Sinopse
Na Cidade de Clair-Monde, em um futuro próximo, sob uma espessa camada de nuvens e bruma, vivem os habitantes de uma cidade ideal na qual, para o bem de cada indivíduo, tudo o que pode ser prejudicial é proibido: os implantes bancários subcutâneos controlam os gastos, uma brigada antissuicídios fiscaliza as crises depressivas, a compatibilidade sexual é exibida em uma tela-rastreador portátil, as drogas são vendidas livremente, todos têm direito à cirurgia estética e à juventude quase eterna. Se não se deseja mais ser feliz, agora há escolha: viver nos confins da cidade, entre mortos-bancários, drogados, obesos, malucos. "Com a Clair-Monde, a felicidade não é mais uma utopia."Nessa sátira a uma sociedade utópica baseada na premissa da felicidade obrigatória, em uma atmosfera de policial noir, a autora faz referências a pesos-pesados da ficção científica, como Philip K. Dick, autor de Do Androids Dream of Electric Sheep?, o livro que inspirou o filme Blade Runner. Cidade da penumbra é um retrato muito bem-acabado do consumismo e do endividamento bancário, do uso indiscriminado de remédios e drogas e da ditadura da felicidade a qualquer preço. Ao lidar com esses temas que já assombram o presente, Lolita Pille cria polêmica e aborda o totalitarismo, o racismo, a desinformação, a vigilância big brother, as cibertecnologias e assim, mais uma vez, desafia convenções.


     Cidade da Penumbra sempre me chamou atenção por sua proposta de abordagem não tão cliché: uma governo totalitário que prega a felicidade a qualquer custo e uma sociedade cega entorpecida por todos os meios, vivendo sob o vício das drogas e sexo. Uma sociedade em que a depressão é a realidade comum em meio a uma falsa - e despercebida -felicidade anunciada. Se há uma forma correta de descrever este livro, diria que este é uma expressão dos diversos males mais profundos do ser humano. 
     A Cidade da Penumbra - Clair-Monde - recebe esse nome por justamente viver sob uma grande penumbra que não permite que seus moradores enxerguem ou tenham contato com o sol há um bom tempo; por conta disso, há grandes bolhas que objetivam gerar a iluminação que deveria ser do sol, recriando o céu. Consigo observar uma simples e significativa metáfora utilizada pela autora através deste símbolo: a verdade é tapada nesta cidade com uma penumbra que lhes cega e telas que tentam projetar a satisfação e felicidade imposta. 
     Uma série de medidas governamentais são tomadas visando o estabelecimento da plena felicidade: a legalização das drogas - tomadas até em refrigerantes -, a pedofilia, o direito a cirurgias plásticas e o serviço de proteção contra si mesmo (SPS). O trabalho escravo, a venda de crianças podem pagar dívidas; e o rastreador, equipamento eletrônico que cada morador possui, avisa sobre qualquer tipo de compatibilidade romântica.
    Em um certo dia, conhecido como o dia do apagão, quando as telas projetoras sofrem um blackout, um obeso comete suicídio. Há muito tempo enclausurado em casa, vivendo as contas de pensão por deformidade, Colin não aguentou ficar sem energia elétrica por alguns minutos - a televisão de realidade aumentada era seu refúgio. Para casos como este, é que existe a preventiva-suicídios, órgão dentro do SPS.  Este especificamente foi parar nas mãos de Syd Paradine. Alcoólatra e em processo de divórcio  com a filha do dono de metade da cidade - Aqui os casamentos expiram após 4 anos de união - ele se recusa a se adaptar as regras dessa sociedade, ignorando inclusive a Confissão obrigatória de 15 minutos diária em que todos os moradores devem despejar seus problemas e dificuldades para uma máquina. Essa sua percepção diferente daquele meio que o cercava é que o fez perceber algo estranho na cidade. Em meio a fugas e aventuras, Syd corre atrás de uma verdade, de uma clareza que não será fácil de ser achada nesta sociedade controlada por uma vigilância Big Brother.
     Lolita Pille tem uma forma própria e bem peculiar de escrita. Assim como os escritores de sua geração, ela não poupa o leitor da verdade. É direta e sincera. Aprecio esta forma de escrita, porém em alguns momentos do livros ele resultou em descrições grotescas e fortes. Sendo uma distopia bem tradicional, sou atraída pelo propósito do livro, porém a forma em que foi escrito tornou-o confuso, não sei se pela tradução do francês ou se pela própria escrita original. Este é um livro massivo, porém que vale a pena. 
     A história trata dos vícios e maldades que se encontram em cada ser humano, assim como das instituições falidas e governos falhos que encobrem todo o tipo de acontecimentos em benefício próprio. Além de destacar a dependência das pessoas e sua cegueira para o que é real.

Trechos: " Restrição da vida para proteção da vida"

Depressão pós-livro: 75%
Avaliação Final: 60%

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